Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Como um carro a levar uma enxurrada no pára-brisas, assim estava eu a conduzir naquela estrada pela sétima vez naquele dia (ainda faltava a oitava) sem ver um pau a frente, quando me apercebi que não caía do céu um pingo. Há quanto tempo não lavava a alma desta forma. Há quanto tempo não me permitia chorar e gritar a plenos pulmões, sentir o que tenho que sentir para acabar por vir a mim?
Os kilometros fizeram-se sem que eu me apercebesse, todas as emoções vieram a mim em 15 minutos de condução, ou 30, nem sei. Sempre a condução a pregar-me destas partidas.
A revolta, a tristeza, a decepção, a luta, o reconhecimento, a criancisse. Não espalhei o bem. Todos os sapos engolidos, todas as emoções recalcadas, todas as atitudes ou comportamentos por aceitar, todas as lembranças dolorosas, todas as vezes que achei que não merecia... culpei a vida, perguntei porquê eu, porquê agora, não chega já?... a culpa apareceu, óbvio, quem era eu para me estar a vitimizar daquela maneira?...
Depois então agradeci. Agradeci a vida, a saúde, o juízo, a possibilidade de fazer diferente, de fazer. Chamei-me alguns nomes... e reconheci-me.
Se me perguntares porque chorei não te saberei dizer, só sei que me senti leve depois, e que esboçar um sorriso com os olhos massacrados e borrados, a cabeça a querer rebentar e o corpo todo dormente, foi a melhor forma de adormecer.
Tentas ser alguém melhor, menos negativa, menos stressada, menos preocupada mas sempre disponivel. Tentas compreender que os outros têm a sua realidade, nem sempre de encontro à tua, e que só tens que aceitar isso.
Mas sentes-te magoada. Desde quando deves aceitar ser ignorada consoante a necessidade e não teres o direito a te ressentires?.. Tentas por tudo compreender e aceitar, até ficar feliz por a outra pessoa estar feliz assim.
Mas merda. Dói. Dói não ser prioridade. Dói não ser nem opção. Isso é o que mais dói.. não seres nem opção para quem para ti é tudo. Não seres nem opção quando não precisam.
Sabes bem que provavelmente as hormonas estão a falar por ti, que és mimada o quanto baste (e quanto sobre também) e que não devias pensar assim, sentir assim. .
Mas merda. Dói. Hoje dói. E dás-te ao direito de dizer " olha, nunca abro a boca mas.. merda, está a doer!"... não dizes, mas pensas, e escreves, não fosse este um texto teu, era o que faltava não poderes escrever...
E pensas, e escreves, e massacra, e dói, e engoles, e amanhã será um novo dia, e pode ser que doa menos, pode ser que te lembres menos , pode ser que consigas ocupar a cabeça e não pensar de todo.
Mania a tua de te vitimizar, depois de tudo, até te fica mal..
Sabes o quanto aperta cada vez que passas aquelas linhas amarelas e a placa "only passengers". Passas as linhas sozinha, nem sempre determinada, nem sempre corajosa, nem sempre sorridente. Nem sempre sozinha também, mas desta vez sim. E a maior parte das vezes também.
Toca a estupidez a diferença que a vida faz em cada viagem, em cada dia, em cada vai e vem. Hoje.. vais de coração apertado. Cheio, mas apertado. E manda lá foder o cheio perto do desespero de voltar ao país dos outros, à vida dos outros, à rotina dos outros que definem a tua.
Vais de coração cheio mas não vais feliz, vais perdida sem saber o que queres, o que faças, o que sintas. Vais sem rumo, com o único objectivo de ganhar dinheiro.. logo tu que sempre te estiveste a cagar para o dinheiro, logo tu que sempre soubeste que o segredo era precisar de menos. E precisas. De tão pouco. Mas há quem precise de ti. Mais.
É um daqueles dias. Já te disse o quanto eu não gosto destes dias? E no entanto são os dias mais dias, são os dias em que a realidade ganha corpo e me esbofeteia com verdade e sem piedade.
Sim, tem sido uma luta. Não o foi sempre, pelo menos tão atroz, e ainda bem, mas há imenso tempo que se tornou numa luta cada vez mais insuportável.
Fingir que esta vida é suportável. Fingir que o meu dia a dia é bom, que me levanto com um objectivo de manhã. Fingir que treinar meia hora por dia e recusar sobremesas é suficiente para que a vida valha a pena.
Sim, continuo a considerar-me uma cheia de sorte, sempre... pela força que me acompanha, pelo amor que me me abraça, por poder dar valor à vida graças a tudo o que ja vivi ou me vi obrigada a não viver. Mas isso não é suficiente para que 24h/365dias valham a pena ou sejam menos penosos. Isso não é suficiente para que agradeça a cada amanhecer e para que o sorriso venha solto todos os dias.
Hoje digo, tens razão, tem sido uma luta. Digo hoje, porque hoje é um daqueles dias. Já te disse o quanto não gosto destes dias?
Dias que me fazem querer que a vida passe mais depressa. A semana que seja de muito trabalho para não dar por ela. A folga que passe bem depressa, não fosse a necessidade de dar descanso ao corpo e até ma podiam tirar. A noite que não seja de insónias porque o meu cérebro um dia acabará comigo e a minha alma pede amor e paz. Os dias que sejam de sol, é dos poucos prazeres que ainda sinto.
Anseio pelo dia em que vou poder lutar para viver e não para sobreviver. Anseio pelo dia em que me posso soltar deste peso e voltar a quem sou, onde pertenço, sem medos ou cordas invisíveis - mas bem perceptíveis - que me prendam aqui.
Sou mulher de mudar o que não me faz feliz, sou mulher de luta, sou mulher de vida ! E preciso tanto de voltar a dar um sentido a isto tudo..
Não demores, por favor, não demores, vida. Não quero desistir antes de tentar e começo a não conseguir saber para onde me virar, onde me agarrar.
Quanto mais o tempo passa mais as certezas aparecem, e com elas a visão dos problemas que virão e dos que poderão vir, o medo do incerto que está mais que certo e se torna real a falta que vais sentir do que tens, do que conquistaste, do que aprendeste, do que viveste aqui.
Qual é o teu maior medo?
Perceberes que afinal não aprendeste nada? Que este tempo fora só te fez mais do mesmo e que estagnaste como um caracol ao sol? Perceberes que afinal as pessoas têm razão quando dizem que não vales uma merda, e que aproximares-te dessa gente te mostre o quanto têm razão?
Essa falta de confiança em ti, vem de onde menina?
Essa falta de amor próprio? Essa falta de certezas naquilo que és e naquilo que queres? Pareces uma criança amedrontada que não sabe o que fazer nem para onde se virar. Tens essa cabeça a mil e sentes-te tão perdida como no dia em que te apanhaste sozinha com uma criança para criar.. a diferença é que nessa altura tiveste mais força e coragem.
Onde está a tua coragem de criança? Onde está a tua vontade de vencer?
Estará nos "obrigado" que nunca ouviste? Nos "és o meu orgulho" que nunca vieram por muito que tenhas feito para os receber? Nos "nunca sozinha" que todas as crianças deveriam sentir e não sentiste?
Vais mesmo deixar que uma infância "menos feliz" destrua uma vida que tem tudo para correr bem?