Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Bateu a porta, chaves numa mão, telemóvel na outra. Os fones com a primeira playlist que lhe apareceu e muita vontade de respirar fundo. Nao estava chateada, nem triste. Sentia-se sozinha, mas determinada. Apetecia-lhe ver as estrelas. Afinal não eram elas as culpadas pelo seu temperamento indeciso e instavel?... esta coisa de estar a sorrir e dois segundos depois a meio de uma crise existencial tem alguma piada nos relatorios astrologicos dos geminianos mas tem muito menos piada na vida real. Foi, insegura, sabendo que chegaria onde quer que fosse e provavelmente iria sentir-se patetica, palerma. Qual é a moça que sai de casa as 23h de um domingo qualquer para ir nao sabe para onde atrás de uma mera sensação de bem-estar? E se essa sensação nao estivesse lá? E se apanhasse uns loucos pelo caminho? A rua está deserta. As pessoas dentro das suas casas, vê-se as luzes da tv em cada janelinha, o silêncio. Cada um com as suas guerras e batalhas, cada um no seu quadrado. Continuou, não estava pronta a voltar a casa. Um jardim, a cabeça a mil, e o desejo de que ela parasse por 5minutos que fosse. Amanha é segunda, tenho que A, e B e não esquecer o C. A que horas me devo levantar? Será que me esqueci de tratar de algo este fim de semana? E a minha mae, esta bem? Tenho que lhe ligar. As consultas estao em ordem? Tenho que passar na farmacia amanha. E nos correios. E no banco. Fuck! Pára por amor de Deus. E aquela menina do instagram que está sempre bem e segura de si, será que fez mais stories?... puxa pelo telemóvel, e pára. Chega de ver a vida dos outros, está na altura de pensar na sua, e só na sua. Incrível como as redes sociais nos dão um motivo para não fazermos nada. Deitou-se na relva, fria mas fofa. Olhou as estrelas, fechou os olhos e meditou, deixou o cerebro esvaziar-se, ao seu ritmo, de tudo o que não podia ser resolvido naquele minuto, relaxou. Quando voltou a abrir os olhos percebeu que o céu estava lindo, a lua bem brilhante e o mundo não tinha desmoronado naqueles minutos, nao sabe quantos, em que se abstraiu de tudo.
A vontade de evoluir como ser humano é muita, a vontade de relativizar, não dar demasiada importância, não deixar a sua paz se abalar por ninharias.
Mas...
e se essas ninharias realmente me abalam? E se eu, na realidade, não quiser ter que fingir que não vejo algo que me desagrada? E se essas pequenas coisas começam a ser muitas e a deixar-me insatisfeita? Devo ignorar para me manter em paz? Devo deixar para lá ao ponto de me perguntarem o que se passa e eu ter vontade de dizer mil coisas mas não as deixar sair para evitar conflitos?
Não confundir o querer ser uma pessoa evoluida e madura com aceitar coisas que te tiram a paz. Não confundir o que aceitas com o que mereces. Não podes moldar o outro, mas não tens que aceitar algo que te magoa ou te deixa insegura.
Tenho medo. Hoje o que mais sinto é medo. E não andasse o medo de mãos dadas com tudo o que é novo e me mete borboletas na barriga, e já lhe tinha dado um pontapé no cu.
É quando o futuro te assusta que vives. É quando o frio na barriga não define se é pânico ou ansiedade que vale a pena. É quando tudo o que não te agrada muda que ganhas fôlego.
Foi um ano de respirar fundo 3 vezes para não mandar à merda...
E mandei. E hoje percebi que mandei. E tenho medo.
Hoje a alma pede sossego. Cansada de andar em altas e em baixas, ora desesperada e solitaria, ora ansiosa e feliz.
Hoje senti aquele frio na barriga de quem está quase a atingir um objectivo. Trabalhei tanto para ele. E senti a tristeza de ainda não ser suficiente.
Os detalhes começam-se a formar, o sonho começa a ganhar contornos, a possibilidade de lá chegar começa a mexer comigo.
Tento não esquecer dos tantos objectivos que alcancei. Tento agradecer cada vitoria, cada conquista. Mas a ansiedade de dar este passo é maior. Não sinto que é desta, mas sinto que é este o próximo passo a dar, sinto que estou no caminho certo. Hoje, pela primeira vez em anos, as borboletas voltaram a voar, por um sonho.