Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Ela seguia pelos caminhos escolhidos por ela com plena consciência que tinha sido decisão dela. Por vezes questiona-se se nao fora a vida a escolher por ela - a vida ainda escolhe por ela - mas ganhou o habito de se responsabilizar pelas suas decisões, vitimizar-se nunca a levou a lugar nenhum, pelo menos produtivo. Às vezes cansa-se, desmoraliza e toca no fundo, sente que nada avança, nada acontece, nada evolui. Procura-se no meio dos pedaços que vão fazendo dela, com a esperança de que se reconstruirá com o melhor e deixará o pior para trás. Com a esperança de se manter fiel a ela mesma e nao se tornar mais uma alma fria e apática cheia de dores que se fecha e protege do dar para nao doer. Mas uma coisa ela sabe, ninguém nunca sabe das dores do outro. Cada um sabe como dói, como arde e como desencoraja. "Cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é " dizia ele, e é bem verdade. Por muito que se fale, conte e exponha, ninguém sabe a dor do outro. E é preciso não esquecer isso. Ela tenta. E continua caminhando, da melhor maneira que sabe... porque no fim, ha que lembrar que ninguém deve nada a ninguém, e ela será o que ela fizer dela.
Bateu a porta, chaves numa mão, telemóvel na outra. Os fones com a primeira playlist que lhe apareceu e muita vontade de respirar fundo. Nao estava chateada, nem triste. Sentia-se sozinha, mas determinada. Apetecia-lhe ver as estrelas. Afinal não eram elas as culpadas pelo seu temperamento indeciso e instavel?... esta coisa de estar a sorrir e dois segundos depois a meio de uma crise existencial tem alguma piada nos relatorios astrologicos dos geminianos mas tem muito menos piada na vida real. Foi, insegura, sabendo que chegaria onde quer que fosse e provavelmente iria sentir-se patetica, palerma. Qual é a moça que sai de casa as 23h de um domingo qualquer para ir nao sabe para onde atrás de uma mera sensação de bem-estar? E se essa sensação nao estivesse lá? E se apanhasse uns loucos pelo caminho? A rua está deserta. As pessoas dentro das suas casas, vê-se as luzes da tv em cada janelinha, o silêncio. Cada um com as suas guerras e batalhas, cada um no seu quadrado. Continuou, não estava pronta a voltar a casa. Um jardim, a cabeça a mil, e o desejo de que ela parasse por 5minutos que fosse. Amanha é segunda, tenho que A, e B e não esquecer o C. A que horas me devo levantar? Será que me esqueci de tratar de algo este fim de semana? E a minha mae, esta bem? Tenho que lhe ligar. As consultas estao em ordem? Tenho que passar na farmacia amanha. E nos correios. E no banco. Fuck! Pára por amor de Deus. E aquela menina do instagram que está sempre bem e segura de si, será que fez mais stories?... puxa pelo telemóvel, e pára. Chega de ver a vida dos outros, está na altura de pensar na sua, e só na sua. Incrível como as redes sociais nos dão um motivo para não fazermos nada. Deitou-se na relva, fria mas fofa. Olhou as estrelas, fechou os olhos e meditou, deixou o cerebro esvaziar-se, ao seu ritmo, de tudo o que não podia ser resolvido naquele minuto, relaxou. Quando voltou a abrir os olhos percebeu que o céu estava lindo, a lua bem brilhante e o mundo não tinha desmoronado naqueles minutos, nao sabe quantos, em que se abstraiu de tudo.
A pergunta que o mundo quer calar. E qual é a pergunta que nos faz descer às nossas profundezas que o mundo, como quem diz a nossa mente, não queira calar?
Todos queremos evoluir e todos sabemos que evoluir dói. Nem todos sabemos que a evolução não depende da nossa vontade e nem todos, ou nem sempre, estamos prontos a admitir que, ao contrário do que a sociedade prega de que devemos ser gratos e felizes e leves, nem sempre estamos nesse estado.
Podemos até saber que devemos dar graças pelo teto das nossas casas, pelo dinheiro que nos paga a luz, o banho quentinho e o conforto da nossa cama, o amor de quem nos rodeia e a saúde que temos para trabalhar, a vida de mais um dia.
Nós sabemos. Mas não conseguimos. A luz parece inacessível no fundo do túnel que descreve o nosso caminho, o sorriso não vem naturalmente , as borboletas emigraram para bem longe e o entusiasmo perdi-o de vista. Passa a haver uma luta entre o
'Devia estar feliz pelo que conquistei.'
e o
'Andas triste, o que se passa (desta vez)?'.
A luta de uma ansiosa que sabe ter tudo o que precisa mas não vê prazer em nada. Aparecem os dias em que apetece mudar tudo, começar do zero, mas não sabe o que lhe falta, porque sempre falta, porque nunca chega.
"E se o mal é meu por não reconhecer o bem?
E se o mal é meu por não valorizar o que tenho?
Todos tão felizes no seu propósito e eu continuo numa busca (incessante) pelo meu... que ingrata eu sou."
A vida mudou nestes últimos meses, e eu cada vez mais ansiosa, cabisbaixa, triste e insatisfeita. Descarrego no trabalho, nos amigos, na família. Mudo de trabalho, levo umas quantas chapadas, percebo que nada é garantido, nem família, nem amigos, nem respeito ou consideração. No mundo tudo é permitido hoje em dia e os sentimentos ou dedicação perderam todo e qualquer sentido, e temos que estar prontos para isso.
Com isto percebo também que não sou obrigada a aceitar o que apetece aos outros. Não pago esse preço para ser aceite. Não mais.
Foi nesse dia que algo mudou em mim, no dia em que deixou de me cortar o peito, e marcar as olheiras. Perdi a vontade de me justificar. Perdi a necessidade de me culpabilizar. Aceitei a possibilidade de ter uma imagem distorcida de mim. Percebi que devo ser mais compreensiva com as dores dos outros, sem as absorver. Afinal, só compreendemos sem esforço aquilo pelo qual já passámos mas nunca passamos todas as dores do mundo.
O sorriso começa a aparecer sozinho, o ideal de vida adapta-se à realidade, as prioridades estabelecem-se e a necessidade de tratar de mim aumenta.
Hoje sinto que ninguém é para sempre. Hoje sinto que as dores não são para sempre. Assim como os momentos bons. Hoje vejo que relativizar é a chave e que aprender isso não depende só do querer. Soltar um riso no meio do choro é o que me faz forte e aquilo em que acredito hoje posso não acreditar mais amanhã. E está tudo bem. Não tenho que provar nada a ninguém. Não tenho que esconder tal como não tenho que mostrar.
A nossa vida é a nossa obra de arte, é para te fazer feliz, é o que tu fazes dela!
Largar um livro a meio porque não me seduziu. Passar um tempo sem ler ou ouvir podcast ou me instruir dando-me simplesmente o direito de estar, em paz. Não gostar da musica TOP nacional. Não seguir o plano alimentar à risca. É um direito meu. Não tenho que seguir padrões, não tenho que encaixar. Não tenho que absolutamente nada e hoje percebo que tenho tanto para conhecer em mim.
Os pesos desaparecem de dia para dia. O que era peso hoje é prazer. Vi que só depende de mim decidir se faço por prazer ou por favor. Sentir solidão ou prazer em ter um tempo para mim. Vitimizar-me ou dar graças por tudo o que a vida me deu.
Não sei se se identificam (nem se leram este 'testamento' até ao fim), se como eu perderam a identidade no meio de tanto frufru ao qual temos acesso hoje em dia, mas se foi o caso, desejo que um dia se sintam livres para simplesmente se conhecerem e serem. Porque ninguém morre por não ser popular, ou por não ter a aprovação de todos, ou por ser quem é.
Desviei-me e deixei-me levar pelo que devia ser, esquecendo-me de quem era realmente. Espero que dentro de vocês algo desperte...
o direito a serem livres, de fazerem as vossas proprias escolhas.
Viver, é bem mais que passar pela vida na bordinha. Tudo tem cor, tem cheiro, tem brilho. Tudo vale a pena, cada passo, cada risada, cada minuto de olhos fechados consigo mesmo. Cada pessoa, cada animal, cada destino, a nossa casa. Até o mais sincero 'foda-se!'. Tudo te merece por inteiro. E se para ti não tem, trata disso, trata de ti, estás a perder o melhor. Alguém me disse que eu estava a viver os melhores anos da minha vida... que o arrependimento não nos sirva de consolo.
A vontade de evoluir como ser humano é muita, a vontade de relativizar, não dar demasiada importância, não deixar a sua paz se abalar por ninharias.
Mas...
e se essas ninharias realmente me abalam? E se eu, na realidade, não quiser ter que fingir que não vejo algo que me desagrada? E se essas pequenas coisas começam a ser muitas e a deixar-me insatisfeita? Devo ignorar para me manter em paz? Devo deixar para lá ao ponto de me perguntarem o que se passa e eu ter vontade de dizer mil coisas mas não as deixar sair para evitar conflitos?
Não confundir o querer ser uma pessoa evoluida e madura com aceitar coisas que te tiram a paz. Não confundir o que aceitas com o que mereces. Não podes moldar o outro, mas não tens que aceitar algo que te magoa ou te deixa insegura.