Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Para quem vê num simples avião ora a chegada da felicidade ora o negro de mais um ano longe.
É sempre quando nos aproximamos das nuvens. Tanto na subida como na descida.
Na subida da ida aparece o sossego de estar quase, de ter acabado "o ano". Na descida bate aquele friozinho na barriga e a ansiedade e sede de finalmente viver.
A subida da volta é a certeza de que não há volta a dar, "o ano" começa. E na descida.. Aquele desespero que nos corrói, a negação, o "não quero, levem-me daqui, não consigo", às vezes o "vamos lá pensar que são só mais uns meses", um acumular de um coração que transborda e de uma mente cheia de bons momentos e o medo, ai o medo, de que quem lá ficou nos esqueça, aprenda a viver sem nós, não precise mais, como nós precisamos.
E é sempre quando nos aproximamos das nuvens que a turbulência aparece e nos agita a memória.
Sabes o quanto aperta cada vez que passas aquelas linhas amarelas e a placa "only passengers". Passas as linhas sozinha, nem sempre determinada, nem sempre corajosa, nem sempre sorridente. Nem sempre sozinha também, mas desta vez sim. E a maior parte das vezes também.
Toca a estupidez a diferença que a vida faz em cada viagem, em cada dia, em cada vai e vem. Hoje.. vais de coração apertado. Cheio, mas apertado. E manda lá foder o cheio perto do desespero de voltar ao país dos outros, à vida dos outros, à rotina dos outros que definem a tua.
Vais de coração cheio mas não vais feliz, vais perdida sem saber o que queres, o que faças, o que sintas. Vais sem rumo, com o único objectivo de ganhar dinheiro.. logo tu que sempre te estiveste a cagar para o dinheiro, logo tu que sempre soubeste que o segredo era precisar de menos. E precisas. De tão pouco. Mas há quem precise de ti. Mais.
E eis que a vida mudou. Ela e esta mania de saber o que faz.
Se há coisa que aprendi é que devemos aceitar o que acontece, pois tudo tem um propósito. Se há coisa que aprendi é que nem a culpa vai mudar o passado nem a ansiedade vai mudar o futuro.
Ontem foi difícil, mesmo com esta aprendizagem e noção, a vida deu-me um estalo no ego - e se não são esses estalos os que mais fazem mossa - e fiquei por algumas dezenas de minutos, ou horas, abananada.
A necessidade de pedir que me livrassem da frustração, a vontade de ouvir exactamente as palavras que me dariam jeito mesmo não as merecendo, e o desinteresse de falar fosse o que fosse. Só o estalo ecoava de vez em quando e me reprimia a voz, como quem sabe que de nada vale falar mais.
Dormi estranhamente tranquila, como há muito não acontecia. E hoje continuo estranhamente tranquila, como que anestesiada pelo estalo e o efeito que ele pode ter tido em mim mas que ainda não descobri.
São muito poucas as certezas que me restam. Entre elas a certeza de que não é o fim, a certeza de que o universo me mostra que o caminho era o errado e me obriga, à sua maneira, a mudar de direcção. E a certeza de que por muito que ainda demore... o melhor continua por vir.
E eis que a vida mudou. Ela e esta mania de saber o que faz.
Um passarinho quando aprende a voar, sabe mais sobre coragem que de voo.
E assim é com ela, sabe nada sobre viver, não faz ideia de como fazer mas não perde a vontade de ser feliz.
Sem vergonha de amar, partir a cara e encarar. Sem vergonha de querer ser leve, livre e diferente ou igual a outros tantos passarinhos que aprendem como ela.
Já foi mais genuína? Já. Às vezes falha a coragem? Também. Mas quando deita a cabeça na almofada sabe que amanhã fará tudo de novo.