Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Deixei-te um livro, o último que me ofereceram e do qual não tinha acabado nem o primeiro parágrafo quando o meu nome saiu pelos altifalantes da sala de espera. E deixei-to como quem tenta tranquilizar a culpa de não poder fazer mais nada.
E deixar-te aí, pedindo a todos os deuses que te agarres a esse livro esta noite e mo devolvas amanhã com esse sorriso nos lábios e com a certeza de que não lhe ligaste porra nenhuma mas que soubeste ser um acto de amor. E impotência.
Deixei-to e deixei-te, mas só até amanhã, prometo.
Gostava tanto de estar na vossa cabeça, no vosso coração e saber sentir o que sentem, saber pensar o que pensam.. sinto-me inutil e limitada, sinto que não penso nem metade do que deveria, não sinto nem um milésimo do que vos atravessa a alma todos os dias.
Gostava.. gostava de vos compreender como se de mim se tratasse. Gostava tanto.
Pensava eu que a sensação de fazer a mala seria sempre igual... Mas não é. Nem isso se manteve igual. Tornou-se insignificante, as borboletas fugiram do ritual de programar tudo o que se mete lá dentro. Perdeu a importância fazer a mala.
Como tantas outras coisas perderam a importância, como tantas outras a ganharam.
Não me incomoda, até me agrada. Mau seria se nada tivesse mudado, se nada tivesse aprendido, é uma lição dura demais para não se aprender nada.
O ritual de fazer a mala perdeu o brio, o brilho, o encanto. Já não é o momento cheio de expectativa e coordenação e sonho de férias. Já não imagino a que praias quero ir ou a que restaurante não quero falhar, nem mesmo as horas intermináveis que passava no teu café.
Os motivos mudaram mas as borboletas mantém-se. Pensar no teu sorriso... Soubesses o quanto me é sagrado o teu sorriso, o quanto estou rendida ao brilho do teu olhar e à expressão mais pura de felicidade que só tu me mostras. Soubesses o quanto és o mais importante da minha vida.
Tudo mudou, mas tudo se mantém. Mais forte, mais ansioso, mais difícil, mais, mais...
Não sei o que será ser mãe, mas sei com todas as minhas células o que é ser filha, o que é ser irmã, o que é ser presente e imperfeita, o que é errar e aprender, o que é sofrer com a vossa falta e melhor que tudo, sei que o que sinto, cá dentro, é do mais verdadeiro que pode haver.
Estou, nem sempre estive, mas no fundo estive, e sempre estarei. E assim será porque eu prometi e tu também!
Há dois meses e meio que não te vejo, que não te sinto, que não te tenho.
E vai fazer três... E eu sem ti.
Acordei com uma necessidade de ti hoje...
Saudades desse brilho no olhar, de sentir o meu coração a sair-me pela boca cada vez que te revejo, desta aflição e alívios insanos que sinto cada vez que sei que falta pouco e que só o teu abraço acalma, do teu cheiro, dos teus cabelos loiros, do teu sorriso lindo com o qual me tentas mostrar que estás bem, como se eu não soubesse não é mãe... Tenho saudades tuas mãe, de ti toda.
E tenho saudades de ser filha... Das tuas mãos a passearem nos meus cabelos enquanto me meto no teu colo e me consolo. De me dizeres que "isso para ti não é nada" e o quanto isso me enervava... E não é que tinhas razão?... Aquilo para mim não era nada comparado ao que está a ser agora.
Saudades de te ter perto, saudades de me reclamares de tudo e nada ao telemóvel, saudades de sentir saudades de um telefonema que hoje sei que não vem.
Saudades tuas mãe, tantas saudades tuas... Está quase meu amor 💝
Quatro meses mãe, quatro meses a entupir este corpo de um peso insuportável. Quatro meses a ter que lidar com uma dor e uma saudade e uma vontade de desaparecer, de apagar tudo que me vai fazer enlouquecer. Quatro meses de peso, muito peso, que levo comigo para todo lado e do qual não me consigo nem aliviar. Já não peço que desapareça mas que alivie.. E dê lugar a mais peso que vem. O peso de não estar contigo, o peso dos assuntos para resolver que não acabam, o peso da preocupação de saber como estás e como estás a recuperar, o peso do futuro incerto, o peso de querer o melhor para ti, o peso de assegurar que ninguém larga o barco e enlouquece como eu tenho tanta vontade de fazer. Que peso mãe.
E hoje só me apetece dizer foda-se!
Foda-se isto tudo. Foda-se o estar longe do meu país, foda-se a falta de leveza, foda-se a falta do sorriso fácil e da alma que é feliz mesmo quando não está. Foda-se a falta que me fazes, a falta que eu me faço, onde é que me perdi. Foda-se! Só queria poder voltar atrás no tempo e evitar, apagar, todo este peso.