Colo
Este ano foi desafiante e constrangedor. Nunca, em Portugal, tinha acordado desanimada no meu aniversário. Foi estranho e não soube lidar. Não soube ou não quis. Na verdade, quis acolher-me. A mim, às minhas emoções e ao meu direito de não estar feliz. Quis colo e consolo.
Sei qual foi o gatilho, reconheci-o assim que o vi. E estragou-me o dia, assim o permiti. Como uma bola de neve, assim que começa a descer nunca mais pára e só cresce. Uns pensamentos levaram a outros, que levaram a memórias dolorosas e frustrantes que ainda não aceitei... E quando dei por mim acordava a chorar no meu aniversário.
Senti de novo o vazio no peito, a solidão e a sensação de ter desperdiçado a minha vida. Talvez fosse o virar dos 35. Talvez fosse uma porta que se viu entreaberta... Talvez seja a vida a ser a vida e eu a aguentar-me com ela.
Acolhi-me sem baixar os braços. Ouvi-me sem me vitimizar. E pedi colo como raríssimas vezes faço.
A vida vai-me permitir encontrar o meu caminho e acalmar estas ânsias e desânimos. Eu sei que vai.