Acordar
Somos falhos, e cegos aos nossos defeitos.
Não é fácil nem frequente termos a capacidade de ver os nossos erros padrão. Exatamente por serem padrão, agarramo-nos à ideia de que fazem parte de quem somos e portanto têm que nos aceitar assim. Reconhecemos bem as falhas nos outros, mas dificilmente em nós.
Existirá irremediavelmente um momento em que separamos o que queremos do que é. Ganhamos uma visão fria e realista, e vemos o que é, e nao o que poderia ser. E acabamos avaliando a nossa vida como ela é, como ela está, sem arranjar desculpas para o seu estado, sem arranjar circunstancias que ainda nao aconteceram, sem adiar a realidade. É aí que vemos os nossos padrões.
Se andamos a tentar algo ha anos e ainda nao se concretizou, é muito provável que estejamos a fazer algo errado, é muito provavel que o problema venha de nós.
Foi quando parei para olhar para a minha vida, naquele minuto, sem pensar no passado e no que me levou ali, ou no futuro, que vi alguns erros que venho cometendo sem me aperceber.
A celebre frase do "estarão sempre (todos) os outros errados? Ou serei eu?
O mal nao estava nas pessoas com quem me cruzava, nem no emprego que tinha. O problema estava em mim e em todas as escolhas que fiz enquanto andava à deriva, na busca por prazeres e recompensas momentâneas. Eu nao sabia quem queria ser, o que queria para a minha vida... como poderia tomar boas decisões? Era mais facil queixar-me e atribuir à vida todas as culpas. Convenci-me que tinha dificldade em fazer amigos quando na verdade optei por emigrar e acabei sentindo falta das minhas "velhas" pessoas. Convenci-me que nao encontrava homens que prestassem, quando na realidade ela uma dependente emocional imatura que nao tinha a oferecer a relação que queria receber. Convenci-me que seria mãe quando encontrasse a pessoa perfeita e que tinha tempo, mas nunca me permiti comprometer-me com alguém a esse ponto.
Se as pessoas sempre nos desiludem, talvez o problema seja as nossas expectativas, talvez estejamos a ver a vida rosa demais e a esperar demais dela, talvez até seja a nossa maneira de ser e agir que leva as pessoas a desiludirem-nos.
Eu nao posso querer estabilidade, se passo a vida a trocar de casa ou de trabalho ou de país. Eu nao posso querer alguém para a vida se nao a respeito e aceito como ela é. Eu nao posso querer ser amada se nao sei amar incondicionalmente. Eu nao posso querer filhos nova se nao me permito crescer.
Se eu tivesse refletido sobre quem realmente sou - e nao quem gostaria de ser - teria percebido onde andava a errar e qual direção seguir.
Felizmente percebi agora, ouvi dizer que ha quem nunca perceba! Agora sei para onde quero ir, e apesar de saber tambem que a vida vai mudar e a direção vai ter que se ajustar, pelo menos tenho uma base para tomadas de decisões, nao ando à deriva.
Acordei.