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Miss Gemini's Blog

Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras... Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.

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Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras... Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.

Caí

Caí, malta.
Caí, e caí a sério. E porque sinto que não se fala o suficiente nisto, vou falar. Mas antes de me leres, tem em consideração que este é uma das partilhas mais vulneráveis que já fiz.

A última vez que me senti no abismo e a depressão me engoliu, os sentimentos principais eram pânico, desespero, negação, dor e tristeza. Era luto.

Eram demasiadas emoções, demasiado intensas, por um período demasiado longo. Era o desespero de querer sair da minha mente que eu não conseguia calar. Era uma dor emocional que se sentia fisicamente.

Mas nos altos e baixos do luto, lá aparecia de fininho a esperança em dias melhores ou um sorriso sincero inesperado e depois da medicação me acalmar a mente, chegou a haver dias mesmo bons.

Mas aquela dor tinha-me mudado e eu não sabia se gostava desta nova Sofia. Sentia-me assoberbada com a pressão da vida, ganhei vergonha de me dar conhecer quando nem eu mesma sabia quem era. Senti que não podia permitir que mais ninguém me magoasse e para ninguém me magoar eu tinha que deixar de ser vulnerável e disponível. Apaguei as redes sociais, rejeitei convites, parei de me expor e isolei-me na minha bolha. E sem me aperceber, aqueles dias mesmo bons e ocasionais, deixaram de existir. Porque nessa bolha faltou amor próprio e auto estima. Nessa bolha faltou compreensão e amor. E de tanto querer calar as emoções más, calei-as todas.

Calei a dor, o desespero, a ansiedade e, vê bem, até a medicação consegui deixar. Tudo indicava estar melhor. As crises de pânico são raras e a ideia de suicídio não está mais tão presente. E porque digo que cai a sério agora, então? Porque agora não há nada que eu sinta, não há nada que eu decida, não há rumo que eu veja. Tornei-me um vegetal a viver ao sabor do que a vida traz, sem vontades ou promessas. Aceitei que a vida será isto, e só isto. Vazia. E se escrevo isto aqui é para me obrigar a reconhecer em que ponto estou, já que até isso eu calei. Agarrei-me a todo o tipo de distrações (prejudiciais , outra coisa que não reconheço em mim), começo coisas que nunca acabo, crio objetivos que não duram 24h. Não me comprometo com nada para não falhar, e evito, ainda assim, todo o tipo de raciocínio que me tire de onde estou. Deixei de me sentir boa companhia, acreditei que os meus demónios ganharam. Deixei-os ganhar.

Há quase um ano que me deixei cair sem me aperceber. Há quase um ano que me minto a dizer que assim não está mau. Há quase um ano que não me reconheço. Agarro-me ao supérfluo para evitar a verdade.

Não é mais uma questão de sair da bolha e começar a viver, porque não é viver quando nada te traz prazer ou satisfação. Logo eu, que me encantava com os detalhes, desencantei-me da vida no seu todo. Não me sinto capaz, não me sinto forte, nem fisica nem emocionalmente e evito a todo o custo conversas difíceis e pensamentos intrusivos. Sinto que vivo contra a minha intuição e não consigo ouvir nem a razão.

Se há uns tempos a minha motivação para cá estar era as pessoas que amo, hoje o que me mantém aqui é a falta de coragem de ir embora. Já nada importa, já nada vale o esforço e todas as minhas crenças e valores foram ficando para trás.

Uma mente doente num corpo fraco. Uma vida sem sentido que nunca mais acaba, mas que não me traz desespero. E fui achando que isso bastava, que já não era mau.

Mas é. Porque uma parte lutadora em mim ainda me diz que a vida deve ter mais para oferecer. E tem. Para quem, ao contrario de mim, está aberta a essas experiências. Hoje vejo que me anulei de tal forma que é impossível acreditar que sou alguém de valor. E como pode alguém deixar-se amar se não se tem em boa conta? Como pode alguém usufruir de boas relações se não se doa?

O meu corpo une-se à minha mente e ambos gritam para que eu saia deste estado de apatia e conformismo. "Tu não eras assim" é o que ouço todos os dias e abafo com um novo livro, 3h no tiktok ou chás para dormir o mais cedo possivel.

Achar as respostas para o que quero do futuro, para que trajeto eu quero seguir, não é prioridade. A luta agora vai começar por perceber o que me faz mal e ouvir, com ouvidos bem abertos, o que o meu íntimo me diz. Aquele que eu calei e que agora dava tudo para ouvir de novo. Calei, e com a sua voz foi a minha possibilidade de me recuperar, a minha esperança em dias melhores.

A luta é recuperar a Sofia. A que eu lembro, sem as novas modas de autoconhecimento ou melhorias, sem seguir linhas de raciocinio ou premissas da internet. Já só procuro quem sou, para que a partir daí eu possa voltar a fazer escolhas que se alinhem com o que me faz feliz.

Um dia banal

Tinha tudo para ser um dia banal. Não enfadonho, mas banal. O sol da primavera já derretia a neve, os campo voltavam a ganhar cor e ela sentia-se alegre. Não há alegria igual à alegria sem motivo. Não havia borboletas na barriga, não havia expectativas ou um grande evento nesse dia, não havia discussões nem elefantes na sala, cobranças ou duvidas, era só um dia banal. Não tão banal pois estava de folga e tinha a possibilidade de se sentar numa esplanada com cheiro a café e terra molhada, a ler um romance qualquer que a fazia viajar e perder a noção das horas. Vem-lhe uma frase à mente: "a vida é curta, mas se a souberes viver, uma vida basta". Ela sente-o, ali, naquele mesmo momento e isso deixa-a tão grata por ter sobrevivido. Qualquer pessoa merece sentir-se assim um dia, pura alegria nas pequenas coisas, puro conforto na sua pele, pura leveza que torna o entusiasmo estável e põe um fim aos altos e baixos constantes; pensa ela. Qualquer pessoa devia conseguir olhar para trás, ter orgulho nas batalhas que venceu, ter orgulho em quem se tornou e conseguir apreciar um dia consigo mesmo. Qualquer pessoa devia sentir o que é um dia de demônios calados, paz no coração e muita (c)alma.

Ela sabe o que é querer sentir o peito vibrar e não conseguir, apesar dos mesmos sítios, dos mesmos momentos que naquela memória lhe parecem tão vazios. Ela sabe o que é procurar o mar e sentir que ele não a reconhece. Procurar uma esplanada quando se consegue arrancar da cama e não lhe saber a nada senão ansiedade e arrependimento por ter tentado. Ela sabe o que é não ver a luz ao fundo do túnel, e hoje olha para esta memória com tanto orgulho. Outra frase lhe vem: "tudo passa". As coisas más passaram (para o provar) mas este momento bom em que ela se encontra agora, também vai passar. Tudo passa, e ter noção disso ajuda-a a manter-se na realidade e não se frustrar quando o bom passa. Quando a vida lhe trocar as voltas, porque vai trocar, sempre troca, ela sabe que vai passar e mesmo que um dia se esqueça, eu estarei cá para a relembrar. Porque qualquer pessoa merece um dia banal, um dia puramente feliz. E eu não acredito que os dias felizes se acabem. Irei recordá-la desta sensação boa que a vida a fez esquecer, irei alimentar a pequena faísca de entusiasmo que nunca a abandonou, nem nos piores momentos. E vou-lhe mostrar que, apesar dela sentir que desta vez não vai passar, tudo passa. Voltaremos a ter um "dia banal". 🍀

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