Medos
Este fim-de-semana pensei nos meus medos. Pus em cima da mesa todos os medos que me atormentam, ainda que nem sempre me dê conta.
O meu maior medo? Que as poucas pessoas que amo me abandonem. Seja por que motivo for. Uns sei que nunca me abandonarão a menos que a vida os leve. Outros - que se contam pelos dedos de uma mão - podem decidir que não lhes faz mais sentido terem-me na vida deles. E não é a desilusão ou a dor do abandono que me preocupa, é eu não conseguir viver sem eles. São eles que fazem de mim melhor pessoa mesmo sem saberem. Eles ajudam-me a manter a sanidade.
E isto leva-me ao segundo medo. Enlouquecer. É verdade, tenho medo de enlouquecer. Talvez por já me ter sentido próxima disso. Não tenho medo de estar sozinha fisicamente, mas tenho medo de não ter quem amo à distância de um telefonema.
Tenho consciência que perdi a maior parte dos meus medos desde a morte da minha mãe. Há dores que nos mudam e não tenho dúvidas disso. Dizem que a maior ameaça vem de quem não tem nada a perder, e a verdade é que há dores que nos mostram que se superámos aquilo, superamos qualquer coisa.
Mas em terceiro vem o medo de não viver o que gostaria. Deixar passar a vida entre trabalho e casa e não lutar contra a rotina. Olhar para trás e ver que não tentei sequer. Não falo de ter sucesso profissional, ou reconhecimento... falo de viver, criar memórias, aproveitar dias de sol e dias de chuva. É isso que faz sentido para mim e é nisso que se foca o meu medo. Não que não se possa ter realização em vários aspectos mas o meu medo foca-se no medo de não ter vivido. Neste medo a pandemia não está a ajudar. Mas não lhe atribuo toda a culpa, sei que vai muito do meu estado de espírito e resiliência.
Por último, tenho medo de perder a mobilidade e qualidade de vida. Tenho medo de ficar entravada, precisar de quem me alimente, de ajuda para o básico. Tenho medo que o corpo me falhe.
Posto isto, é necessário perceber o que posso fazer para minimizar os estragos, para que os medos não me atormentam. E a primeira coisa que me vem à ideia é que só posso controlar a minha parte, aquilo que faço ou não.
Então, contra a vida os levar não posso fazer nada, preocupar-me com isso só me vai fazer sofrer a dobrar. Posso aproveitar o tempo que tenho com eles. Posso ser mais presente na vida deles. Essa é a parte que eu posso controlar. Quanto às pessoas que me podem abandonar, não consigo controlar as vontades delas, mas posso dar-lhes motivos para ficarem. Posso ser atenciosa, presente, agradável e alegre. Posso acrescentar algo às suas vidas como elas acrescentam à minha.
O medo de enlouquecer... Levou-me a experimentar a meditação, a terapia, estudar, ler, escrever, arranjar hobbies que me distraissem e me fizessem feliz. Estipular momentos de raciocínio e introspecção, e momentos de esvaziar a cabeça e me manter entretida.
O medo de perder mobilidade levou-me a estar mais atenta à saúde, fazer exames com mais frequência, treinar consistentemente para poder ser uma velhota cheia de força.
Isto é tudo o que posso controlar. Fazer a minha parte sabendo que um dia a dor pode vir e nessa altura, só nessa altura, terei que lidar com ela.
Quais são os teus medos? E o que fazes para que não te impeçam de ser feliz?