Há um ano
Há um ano estava a caminho da Suíça. Tinha a vida virada do avesso e o desanimo corrompia todas as minhas ações. So queria fechar-me do mundo e dormir.
Estava a caminho para ir ver o meu pai, madrasta, irmã e amigos. Estava a caminho do meu porto seguro após a morte da minha mãe. E hoje envergonho-me do desespero que me deu no dia da viagem e que quase me fez ficar por terra. Lembro-me de fazer a mala em piloto automático, como se nem refletisse no que estava a fazer. E no dia da viagem, assim que entrei no autocarro, chorei o caminho todo até Lisboa. Parecia que todas as minhas energias lutavam pela inércia. Na minha cabeça só pairava o "não quero ir, não quero fazer isto, não quero aeroportos, aviões, viagens de carro intermináveis, não quero". Sabia que não era pelo destino, se desse para estalar os dedos e estar lá, eu não hesitava. Era todo o ritual da viagem.
Quem me conhece sabe que amo viajar, adoro o pré, o durante e o após. E naquele momento eu simplesmente não parecia eu. Cheguei a Lisboa, fui a casa de amigos que me levariam ao aeroporto e lembro-me de chorar em desespero porque não conseguia ir, não tinha energia, não queria. Quase confundi o meu desanimo como um mau pressentimento e cheguei a pensar como seria dizer ao meu pai que afinal não ía ao seu aniversario.
A depressão tem destas coisas, faz-nos perder momentos unicos e inestimaveis. Assim como a emigração. Já experimentei os dois.
Apesar de me envergonhar da minha quase decisão, hoje aceito-a com carinho por tudo o que passei. E felizmente aqueles eram verdadeiros amigos que me incentivaram (leia-se quase obrigaram) a ir, mesmo com medo, mesmo em desespero, pois assim que lá chegasse estaria melhor do que cá. Agradeço-lhes sempre que me relembro disto.
Há um ano a minha vida estava um caos, hoje as coisas seguiram o seu rumo e a poeira assentou. Não estou mais feliz do que naquele momento, mas estou mais calma, comprei casa, encontrei o meu gato, e tento todos os dias não me deixar abater pelo desânimo.
Se sonho com o futuro? Não. Se me entusiasmo com o que antes me fazia vibrar? Também não. Mas se um ano mudou tanta coisa, escolho acreditar que se calhar preciso de mais um ou dois. E assim levo a vida, um dia de cada vez, um desespero de cada vez, uma crise de choro de cada vez, desde que hajam sorrisos à mistura.