Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
É inevitável. Aquele momento em que te sentes mais madura e pensas em todos os disparates que fizeste. Acabas por dizer "se fosse mais madura na altura, não teria lidado assim com aquilo". É inevitável. E nesse momento quero que penses numa coisa: se nao tivesses lidado assim com aquilo, nao terias a maturidade que tens hoje.
Foi por sofreres como sofreste que cresceste. Foram todas as tuas decisoes e consequências que te mostraram o que nao querias manter na tua personalidade, e a capacidade de te moldares ao teu melhor Eu. Foram as cacetadas sucessivas que te mostraram que tinhas que te fortalecer para nao continuar constantemente a cair.
Há quem te fale da existência de dois polos. A eterna apaixonada que vive tudo a mil e se entrega a pés juntos. E a fria que nao se permite amar. Deixa-me dizer-te algo que mudou a minha vida: há um meio termo. Ha uma mulher capaz de amar com muito sem usar o outro como muleta. Ha uma mulher que se sente forte ao ponto de nao precisar de ninguém, mas que escolhe com todas as vontades e apesares dividir o seu tempo (e o seu ser) com alguém. Ha uma mulher com a certeza de ser capaz de lidar com medos, fins e abandonos, apesar de nao os querer, nem os evitar.
Tu podes amar com tudo mas nao precisar dele/a. Tu podes dar o melhor de ti sem a motivação de receberes em troca. Tu podes entregar-te sem medos porque sabes que se correr mal, tu aguentas! Porque quando conseguires amar assim, sem condições, vai ser claro para ti quando algo te serve ou nao. Nao pelo que dizem, avaliam ou julgam os outros, mas porque tu vais saber o que faz ou nao sentido para ti; o que te faz, ou nao, vibrar.
Os dias têm sido pesados. Mas um pesado diferente. Por estupido que pareça, ja tinha saudades de ter dias pesados com motivos. Quando passas meses a fio em que te sentes sem o mínimo de entusiasmo, sem vontade, sem alegria e nem sabes dizer porquê, torna-se complicado lidar com o futuro e o imprevisto. O que mais assusta o ser humano é o que nao pode controlar. O imprevisto tem o seu je ne sais quoi de entusiasmante, quando é positivo. Quando as dores no corpo e a falta de ar se fazem presentes diariamente e nao sabes porquê, nao sabes o que fazer para irem embora, nao sabes quanto tempo durarão, nao sabes se amanhã será melhor... é dificil de lidar, fisica e emocionalmente.
Felizmente esses dias nao se têm feito presentes. Nao sei se foi por passar mais tempo acompanhada, se foi por ter retomado o exercicio fisico com afinco... o certo é que ando a ter dias bons. Vê bem, chamo dias bons a dias pesados. Porque neste momento para mim dias bons sao dias que nao acordo com vontade de passar o dia na cama. Acordo determinada a cumprir coisas. Talvez seja isso que me anda animar.. ter arranjado coisas a fazer. Treinar, alimentar-me melhor, cozinhar, beber cafe com amigas... nao que haja motivação mas há determinação.
Tem sido dias pesados e no meio de tantas mudanças de humor e fragilidade emocional, sinto-me uma bomba relogio pronta a explodir pelo mais estupido motivo. Neste momento é o trabalho que me anda a sobrecarregar. E é tao bom dar-lhe um nome que nao seja depressão. É bom nao me saber mais apática. É bom saber que, apesar do cerebro ainda não produzir as hormonas que deveria, as coisas se voltam a encaixar. Nao precisava de passar de apática a explosiva, mas é o que temos, lidemos com isso apesar das circunstâncias.
Ao contrario de outras fases em que me sentia a querer entender tudo, vasculhar mais fundo, ver onde doía e porquê (e que coisas que eu descobri..) agora sinto-me calma, "deixa assentar a poeira Sofia, deixa assimilar tudo o que aprendeste nestes ultimos meses, da-te tempo".
Agora tenho dias bons, pesados por motivos que eu percebo e posso resolver, e isso... sabe tão bem!
Hoje recebi um vídeo da minha melhor amiga. Sobre tratarmo-nos como tratamos alguém que amamos. Chorei. E dei por mim a agradecer ao universo (mais uma vez) ter aquela pessoa na minha vida. Naquele momento apercebi-me do quanto crescemos juntas, do quanto vivemos juntas, do quanto superámos juntas. Não me lembro de discutir com ela. Lembro-me de passar uma semana 24/24h com ela e ser maravilhoso! Porque até a birra matinal eu acho amoroso, até o nao querer sair de casa para -10° mas nao conseguir dizer que nao ao meu entusiasmo eu valorizo, até o sarcasmo eu adoro. Não lhe vejo falhas, vejo características que compoem um ser que eu amo. Sem elas, ela nao seria a mesma. E quando penso nas bebedeiras que apanhámos, nos dramas mexicanos e infantis que ela me aturou, nos medos partilhados quando tomámos grandes decisoes como sair de casa ou emigrar, na lealdade e respeito que temos e sempre tivémos uma pela outra... so sinto pena por nao a ter conhecido mais cedo. É cega a confiança que lhe tenho. É madura a amizade. Sempre foi. Sempre a vi como mais madura do que eu, era mais sensata com um toque de loucura, mais reservada mas transparente como a água. Genuína. Sempre tomou mais conta de mim do que eu dela. Apesar de mais nova. Sempre me deu prioridade. Nao somos as "BFF besties foreva", somos mais "ride or die". Ela precisa eu nem questiono. Seja o que for! E hoje olho para ela, e vejo um mulherão. Uma mulher de valores que tornam natural dizer nao uma à outra sem ressentimentos. Decidida, consciente das suas habilidades e autonomia, comprometida na propria evolução, uma mulher que renasceu das cinzas e que mesmo nos dias difíceis, a sua vulnerabilidade é brinde. Que orgulho! Que orgulho ter crescido ao teu lado. Que orgulho nas mulheres que nos tornámos. Foda-se Dani, um viva a nós que com tanta cacetada agarrámos a aprendizagem e guardámos o amor. Um viva a ti, por nao deixares que as circunstâncias te definam. Por vezes dou comigo a pensar "o que faria a Dani?" e isto faz de mim uma mulher cheia de sorte. Adorar a pessoa que me inspira a ser melhor, sem invejas, sem reservas, sem ponta de coisa ruim, é raro. E eu sei disso. Sou uma mulher cheia de sorte, e tu és um mulherão!