Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras...
Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.
Saliento que me refiro a namoros difíceis, nao abusivos e violentos (se bem que muitos começam assim). E apesar de por a vitima no feminino e o toxico no masculino, é valido para qualquer sexo.
Acontece com uma certa facilidade a pessoas com baixa autoestima, que tiveram a falta de uma imagem paterna na infância ou que não se dão valor. O facto de se acharem inferiores e nao dignas de ser amadas - o que ha em mim para gostar?- pode originar duas reações: ou estragar a relação e convencer-se de que nao vai dar pois assim que a pessoa a conhecer vai-se cansar porque ela nao tem nada de especial, então foge (até para fugir de ser deixada, mas isso é outra historia); ou torna-se extremamente facil de manipular, tolera tudo para que o outro nao a deixe e entra numa fragilidade emocional enorme ao tentar ser quem ela acha que a outra pessoa deseja. Estas circunstâncias emocionais quando encontram alguém que vive as relações de forma manipuladora, formam uma relação toxica quase certa.
As pessoas manipuladoras podem se-lo por varios motivos... por terem sido vitimas de uma relacao abusiva, e agora tem que ser como elas querem (traumas), por falta de confiança, pelo que elas chamam ser muito intensas e por necessidade de controlar a pessoa que esta ao lado sentindo-se rei e senhor.
Raramente se identifica uma relação toxica no inicio, porque se o outro te tentar manipular no inicio, certamente darás por ela. É com o passar do tempo que, na base de te amar e querer o melhor para ti começa a sempre precisar saber onde estás, porque demoraste mais tempo, ou ir busca-te sempre para que chegues a casa segura. Nenhum destes comportamentos é toxico, até ao momento em que é excessivo e excessivamente cobrado. Quando começa a deixar-te desconfortável, é porque algo passou da marca. Mas, geralmente nao te apercebes. Nos tendemos, quando amamos, a ignorar as 1000 coisas más e agarrarmo-nos a 1 boa. Entao aceitamos que é só excesso de zelo, ele é intenso, não é por mal, e se nao tenho nada a esconder, qual é o mal? A seguir poderá vir o isolamento. Ha discussao cada vez que sais... pelos mais variados motivos, nao obrigatoriamente por teres saído. Pode ser porque nao respondeste (sempre, a noite toda) e ele quase morreu de preocupacao - ingrata. Porque estava la alguém que nao gosta. Porque esqueceste algo combinado (mesmo que tenhas quase certeza de nao ter combinado nada). Porque ele queria-te fazer uma surpresa e tu estragaste tudo. A intenção será sempre a melhor, e com o passar do tempo cansas-te e vais deixando de sair. Afastas-te das pessoas e infelizmente isso faz com que o que ele tem a dizer é a unica opiniao que ouves. Vais começar a sentir que nao mereces um homem tao bom quanto aquele, tao preocupado, tao cuidador... e depressa te achas inferior a ele, até porque ele não se controla nos nomes que te chama e na forma como te rebaixa, mesmo que em seguida te culpe pelo seu stress e te diga que es a melhor mulher do mundo. Tu sentes que tens que o agradar, tens que o vangloriar porque ele é muita areia para a tua camioneta. E aqui... ja foste. Ele vai testando os teus limites e tu vais-lhe ensinando como te tratar (ou pisar) ao perdoar e manteres-te uma e outra vez.
Se estas nesta fase, A SERIO, tira uma horinha para ti numa esplanada, pega num caderno e descreve a tua relação como se a contasses a uma amiga. Às vezes so percebemos onde estamos enfiadas quando falamos em voz alta, no nosso cerebro, antes de pronunciar, tudo parece menos grave, ridiculo, tóxico. Aquela celebre frase "se eu disser em voz alta torna-se real", é isso mesmo!
Entretanto ele, como fraco e inseguro que geralmente é, vai fazer joguinhos emocionais para lhe mostrares incansavelmente, e de formas ridiculas, que o amas. Tudo vale, apagares alguem do insta, abrires-lhe a porta apos uma discussão, aceitares um comportamento dele que nao gostas, ultrapassares claramente um dos teus limites. Começas a ter noção de que nao gostas de quem és quando estas com ele. Parece que assim que ele aparece tudo desmorona (para quem tem sorte de ainda nao viver com o manipulador, isto é ainda mais evidente, pois temos mais tempo "livres" e bastam 4 ou 5 horas de paz num passeio no parque para nos apercebermos que estamos melhor sem eles, sem as suas mensagens, sem os seus telefonemas ou as birras). Ele mexe-te com os nervos de uma maneira que nao podes controlar, e nem sabes porque raio ele desperta o pior em ti.
Duvidas de ti. Achas que estas a enlouquecer. Sera que ele tem razao? Será que este comportamento afinal é normal? Quando é bom, é tao bom! Mas é mau 20h por dia.
As discussoes sao cada vez mais frequentes, começa a chamar-te nomes, a fazer-te sentir ingrata e fraca, a encher-te de defeitos - nos quais a esta hora ja acreditas porque te afastaste de todos e nao tens pessoas sãs a chamar-te à razao - , a inventar motivos para ciúmes, a acusar-te de seres tu o motivo de todas as discussoes, até naqueles dias em que tudo o que querias era chegar a casa e nem o ouvir, a violar o teu espaço enchendo o teu telemovel de mensagens, chamadas, e-mails quando nao tens mais forças para discutir nao respeitando nem o teu sono, ate se plantar à tua porta e dizer so sair quando abrires e falares com ele.
Nesta fase, eu acordei. Tive um choque emocional enorme e percebi que aquilo.. AQUILO era merdinha perante o que eu estava a sofrer agora. Aquilo era cortar com ele a 1000% sem explicações, do dia para a noite, bloquear numero, e-mail e redes sociais. E se ele se espetasse à minha porta podia dormir ali, afinal, era uma decisao dele, com as suas consequências, eu nao o tinha mandado dormir ali, eu nao o queria ali, eu nao tinha nada a ver com isso, eu nao era responsavel por isso. No pior dos casos chamava a policia.
Mas sei que muitas nao saem tao "cedo". E tambem sei que é dificil sentir-se compreendida, porque quem nunca foi manipulada assim nao sabe o estado emocional de quem está la dentro. Ficas fraca, sem energia, sem paciencia, com medo de ser deixada ou com a ideia de que nao aguentas uma separação entao vais aguentando. So nao queres confrontos, so nao aguentas mais. Umas esperam por melhorias com esperança, outras resignam-se a não agir.
Uma fase é comum a todas elas, onde elas se acham uma merda, sem nada se bom, sem ninguém, cheias de defeitos, e "obrigada Deus" por este homem incrivel que me atura. E esta fase pode durar imenso tempo.
Espalhei-me ao comprido na ideia. Mas vou retomar. Se te identificas com este texto neste momento, analisa bem a tua relação, se te faz mais feliz do que triste, se te acrescenta alegrias ou frustração. Sao autenticas bandeiras vermelhas que ignoramos. Se estas em duvida, procura uma amiga, um familiar, alguém que te conheça bem e te ame, e conversa com ela. Conta-lhe o que te incomoda, ouve-te a contar e ouve a opiniao dela. Se ja chegaste ao ponto de querer sair e nao sabes como porque ele te encheu a cabeça com responsabilidade emocional, obrigações e culpas, ESQUECE TUDO ISSO! Nao es responsável pelo estado (ou vida) dele, nao es obrigada a ficar com ele, não te sintas mal com as lagrimas dele! Uma relação inclui um risco de sofrimento, tu também o aceitaste, e se existisse responsabilidade emocional na vossa relacao tu nao estarias nesse estado depressivo.
Acaba. Corta. Bloqueia. Pede a uma amiga para passar uns dias contigo ou tu com ela. Chegou algo? Nao leias! Ele vai acusar-te pelo sofrimento dele e tu vais querer defender-te, ele vai tocar onde sabe que doi, tu vais cair e passadas 4 h continuas agarrada ao telemovel a trocar mensagens com olhos de sapo, uma dor de cabeça de dar a volta ao estômago e a sentir-te mais fraca ainda - é quando ele vai avançar por saber que nao teras força para o rejeitar. CORTA. SO CORTA.
Mas... O motivo inicial deste texto era que conseguíssemos entender, passadas todas estas fases, que o facto de aquela pessoa nao ter dado para nós e a considerarmos toxica, nao faz dela obrigatoriamente, uma ma pessoa. Será certamente alguém que sempre despertará o pior de nós, devido à historia em comum, por isso nao aconselho uma reaproximação, mas isso nao tem que fazer dele má pessoa. Obviamente ha pessoas assim, manipuladoras com fundo mau. Mas também ha pessoas que têm comportamentos toxicos mas têm fundo bom. Podia nao ser a altura certa para uma relacao e ele estar a projetar dores antigas nesta relacao, podia ser inseguranca e ego ferido, pode nao ser uma PESSOA toxica mas estar num MOMENTO toxico.
ATENÇÃO, nao é pessoa para ti, nao foi nem será. Ok? Não é isso que discuto. O que quero que penses é que podes afastar-te dessa pessoa sabendo que para ti nao dá mas nao é obrigatoriamente ma pessoa, so nao deu. Leveza. Quando saimos de uma situação destas é habitual guardarmos rancor e mágoa por demasiado tempo, e como acredito que as emoções guardadas dentro de nos têm o poder de nos destruir, procuramos livrar-nos das magoas, raiva e rancor, e aceitar simolesmente que nao deu.
Depois dessa minha experiencia, tambem eu fui toxica numa relação. Nao a este nivel, mas por ser confrontada com a morte da minha mae e simplesmente nao conseguir ser agradavel na relação, com o tempo minava o ambiente à minha volta, e todos sentiam a pressao de estar tristes como eu. Isso fez-me pensar... nao sou uma pessoa ma nem manipuladora, mas tive um MOMENTO TOXICO, tambem eu.
Por mais compreensao e aceitação, sem nunca esquecer que 6meses com mais discussoes do que alegrias, já é uma bandeira vermelha. Take care 🍀
É 25 de Dezembro, e é o meu primeiro 25 de Dezembro sem ela, e sem eles. É o primeiro Natal sem pai nem mãe. E não. Não vou romantizar a coisa. Nao vou pôr luzinhas na nuvem negra que me segue. Nao vou fingir que este Natal me trouxe a grandiosidade de Deus, ou os sentimentos nobres. Não ha magia por aqui. Nao ha brilho. Não ha Mariah Carey. Não houve fotos. Não houve disposição.
Houve abraços e carinho, assim como irritação e falta de paciencia. Houve amo-tes, e chingamentos. E nao houve, não há magia.
Nao quero que pensem que nao houve reflexão, aprendizagem, gratidão e perdão. Houve, o ano inteiro. Porque uma das minhas metas é ser a minha melhor versão, todos os dias. E a minha melhor versão ainda é egoista, ainda aprende, ainda tem demonios (tantos!), ainda erra. E pelo que ouvi dizer, vai errar sempre.
Metade de mim é felicidade ao ver familias reunidas, a outra metade é dor por nao ter a minha. Metade de mim é alegria por ver pessoas a fazerem as pazes, a outra metade é frustração por nao haver pazes que os tragam. Metade de mim é prazer ao ver olhinhos que brilham com esta magia natalícia, a outra metade enraivece-se por nao a conseguir sentir este ano.
Tenho como garantido que daqui a 12 meses a minha melhor versao será bem melhor que esta. Tal como garanto nao espalhar este meu mau estar à minha volta. Tenho como certeza que vou trabalhar para que a magia volte a mim, mas este ainda não foi o ano.
Nao tenho boas memorias natalicias, para dizer a verdade so comecei a gostar e valorizar o Natal quando emigrei. A magia, as ruas cheias de gente sorridente, o cheiro a canela, o vinho quente, as decorações e musicas nas ruas, o meu pai, a família.
Desde aí que passei a ser apaixonada por brilhos, sons e sininhos. Pais natais e Mariah Carey. De maquina fotográfica na mao, nada me escapava. Queria guardar aquele sentimento bom no peito, o ano inteiro. Imaginam o quanto é frustrante sentir-se uma velha resmungona neste Natal?...
Sei que estou a olhar as coisas de forma errada. Da-me jeito, na verdade. Eu nao tive falta de entusiasmo este Natal. Eu tive falta de entusiasmo o ano inteiro, o que incluiu o Natal. Eu podia ter feito mais pelo Natal, podia ter estado com os que me transbordam, podia ter visitado uma exposicao de Natal e ter procurado a magia. Fechada em casa é obvio que ela não vem. É desta depressao que tenho que tratar, e eu sei disso, e eu faço por isso. Mas perceber que ainda estou longe de la chegar apesar da força de vontade, mexe com a nossa calma e compreensão.
Desculpem se vos toquei com a minha sombra hoje, mas se me seguem por quem sou, tambem vos devo isto. Acreditem que metade da Sofia quer muito que tenham passado um Natal MARAVILHOSO com tudo aquilo a que têm direito, mas a outra metade está a sofrer.
Que a luta continue, que a coragem se multiplique e que nunca queira ser/estar quem nao sou. Nao mais.
Aproxima-se um novo ano como um virar de página, um começar de novo, de preferência melhor. Mas o melhor não vem sozinho. Não vem do que leste e do que passaste, não vem do que dizes mas não praticas. Vem de como reages, do quanto te tornas resiliente, do quanto percebes que o teu ego comanda e te dispões a calá-lo.
Não és melhor se achas que tudo é para te afetar. Não és melhor se achas que a vida te deve alguma coisa, ou que és as maior das vítimas, ou que a ti já te aconteceu (sempre) algo pior. Não és melhor se queres amar-te mas não te instruis, não te informas, não tens muito de bom para oferecer ao outro. Não és melhor se preocupas os teus velhos e cansados pais com questões só tuas. Não és melhor se pões o teu peso nos ombros de outro, o teu bem estar acima do do outro. Não és melhor se não ouves com intenção de perceber mas sim de responder, se julgas tudo cedo demais, se passas a vida a ser chata por pintelhices.
Que saibas aproveitar 2021 da melhor forma, que não se forcem sentimentos nem proximidades -afinal, tu não queres algo que não te é entregue genuinamente-, que não leves tudo para o lado pessoal, deixa o egocêntrismo de lado e que cresça a empatia e respeito pelo tempo de cada um. És só mais uma formiguinha neste mundo, não és assim tão importante, e (surpreende-te) és sempre a pessoa mais importante da tua vida. Que sejas mais realista e menos moralista.
Que não se poupem os abraços, os afetos, e os telefonemas aos teus velhotes, e que não te falte a paciência quando estão mais carentes e chatinhos. Que sejas mais agradável para que te queiram por perto, que sejas mais na vida de alguém. Que não se estraguem jantares porque o namorado não abriu a porta do carro ou se esqueceu que comemoravam 32 meses e meio do primeiro beijo.
Que os mimimis fiquem à porta e que saibas escolher os motivos que te deixam triste. Há tantas possibilidades, quanto menos opções aceites, melhor! Que saibas afastar-te de quem é negativo ou tóxico, sem que isso faça dela má pessoa, apenas não te faz bem, a ti. Que saibas levar cacetadas sem quebrar, e agradecer, como agradeces quando algo de bom acontece. Que saibas amar à distância, respeitar o outro e por-te no lugar dele. Que percebas que uma relação não é uma guerra, que o outro não é o inimigo.
Que sejas mais empatica e compreensiva. Que não dês opiniões sem ser pedido. Que leias mais livros, que estudes mais para que sejas a cada ano mais inteligente. Que treines regularmente para poderes chegar a velha sem precisar de ajuda para sair da sanita. E para te sentires mais bonita e confiante, e para ter menos medo de ser atacada, estaras cada vez mais forte.
Que não trabalhes de trombas a fazer o estritamente obrigatório, que te does mais, dediques mais a algo. Que faças mais e melhor, a cada dia, afinal, tem que ser feito, que seja bem feito! Que te recordem com um sorriso por fazeres diferente, e neste caso, a concorrência está tão pequenina. Que te destaques pela positiva. Que faças cada vez menos fretes e mais caridade.
Que namores mais. Que hajam mais filmes deixados a meio e cochilos ao domingo à tarde, que o que te falta não seja mais importante do que o que tens, que o urgente não se priorize ao importante.
Que ames mais. Mais amor quando estás enamorada, mas principalmente quando não estás. Mais amor com a vizinha chata, com o chefe frustrado, com um sorriso que cruzes no passeio. Mais amor nos convívios sem telemóveis, nas relações verdadeiras, nas pessoas e problemas reais, nas conexões, nos sonhos.
Que sejas mais humana, menos piegas, mais adulta. Que sejas mais feliz,
A liberdade do outro acaba onde começa a tua. O que mostra que grande parte das vezes tens que marcar os teus limites, mostrar onde começa a tua. Se alguém te desrespeita e tu nao impoes os teus limites, as proximas vezes que acontecer a responsabilidade será mais tua do que desse alguém. É sabido que ao ignorares uma atitude que te magoa, estás a ensinar à pessoa que pode faze-lo sempre que quiser. É sabido que se acabas mas voltas constantemente, estás a mostrar à pessoa que pode fazer o que quiser, pois tu cedes. É também sabido que tudo isto acontece quando lidas com pessoas infantilizadas e egoístas que ainda nao estao prontas a respeitar como querem ser respeitadas. A escolha é sempre tua. E por vezes esqueces isso em prol de algo que não te satisfaz mas, "a esperança é a última a morrer", e nos entretanto vais morrendo, a tua alegria de viver, a tua luz, a tua leveza e alegria.
Uma coisa eu percebi. Alguém que merece o teu amor e cedencias, é alguém que dificilmente terá atitudes que te magoam deliberadamente. É obvio que aqueles que amas te vao magoar, eventualmente. Tal como é obvio que algum dia magoes quem amas. E para isso tem que haver dialogo e compreensão. Mas se uma atitude que te magoa é repetida sem preocupação, algo esta errado, e são os teus limites. É a tua postura perante a situação.
Outro ponto importante é quando o que te magoa é desvalorizado. Como se te quisessem convencer que es picuinhas por te magoares por tao pouco, logo o mal é teu. ISTO nao é aceitável. Nao defendo que devas armar um escandalo por tudo e por nada, mas como adulta que és sabes relativizar, por as emoções e ego de lado e perceber como certas atitudes te fazem sentir. Porque no fim do dia isto é que importa, como te sentes.
Sei que o que te magoa a ti pode nao fazer sentido para o outro, e vice-versa, mas numa relação, seja ela de que caráter for, é essencial respeitar o outro, faça sentido para ti ou nao. Se a ti te magoa, nao é discutível. Se à outra pessoa o magoa, nao é discutivel. Cada um tem os seus valores e a sua essência, e deve ser respeitada. Tanto por ti mesma, como pelo outro.
Tu sabes quando algo é too much e faz mossa. Tu sabes onde podes ceder prazerosamente, ou nao. Nao ignores os teus proprios valores. Nao esperes que amanha seja melhor. Olha para o que das e recebes hoje, e se isto te é suficiente para os proximos anos. Nao te sabotes, nem a ti, nem aos outros.
Nao adianta culpares o outro por te magoar consecutivamente quando es tu que te propoes a isso. Até porque a intenção não é arranjar culpados, mas sim construires o teu circulo de pessoas para a vida. A intenção nao é ilibar-te justificando os teus comportamentos pelos erroa dos outros. O que queres é perceber honestamente se é assim que queres continuar a ser tratada. E se nao for, so tu podes mudar a tua realidade, quando ja mostraste que assim te magoa e a outra pessoa nao ajustou o seu comportamento.
Acredito que vai da nossa submissão os casos crescentes de pessoas com baixa autoestima e relacionamentos toxicos. Se nao te deres valor, os outros também nao vao dar.
Assume a responsabilidade da tua vida, afinal, ninguém sofre as tuas dores e todos viemos aqui para ser felizes.
Os anos passaram por ela sem que ela os pesasse. Chegou a adulta sabendo que nao tinha tido uma infância facil, tinha tido uma infância normal. Com altos e baixos, com poucas possibilidades monetarias, com casamentos e divórcios... assuntos dos quais ela nao deveria queixar-se pois a sua mae sofria mais. Para a sua mãe era sempre pior. Como poderia queixar-se de ser chamada de "puta como a mãe" na escola (e até pela familia) se a mãe trabalhava duramente para sustentar as duas? Como poderia queixar-se de a mae nao lhe dedicar tempo nenhum quando a mae sofria de depressões constantes?
Ela aprendeu tão bem que enfiou para o sub-consciente todas as suas memórias da infância. A vida ía passando e tudo o que ela nao podia deitar cá para fora chutava para o sub-consciente, esquecia.
Quando começou a ter comportamentos depressivos, começou a estudar formas de se levantar. E leu sobre uma que aconselhava terapia para resolver questões da infância. Foi quando ela percebeu o quanto estava mal formada porque nunca tinha lidado com o que a incomodara. Tinha para si que era culpada de tudo o que lhe tinha acontecido e essa culpa limitava-a ao tirar-lhe valor, auto-estima e achar-se desmerecedora de amor. Agarrava-se à primeira migalha de amor que recebia, com unhas e dentes, e reparou noutros comportamentos repetitivos que ela tinha e que nao a levavam a um lugar mais feliz.
Neste tipo de abordagem há uma linha tênue entre resolver magoas do passado e vitimizarmo-nos. Ha uma linha tênue entre livrar-nos de culpas insensatas e acharmos que somos o que somos pelo que nos fizeram, passando a culpa de nós para os outros. Esse comportamento vai tornar-nos ainda mais frágeis, egocentricos e agarrados à dor.
Todos tivémos infancias dificeis, mas todos tivemos (na maioria do tempo, pelo menos) comer, um teto para dormir e ja nao tomámos banho de bacia com agua aquecida ao lume. Todos tivemos luz, agua e um cobertor. A nossa infância nao foi a pior do mundo.
Nos não somos o que nos acontece, somos o que fazemos com o que nos acontece!
Era aqui que ela queria chegar. Poder olhar para o passado com compreensão e empatia por quem a magoou, mas sem peso no peito. Saber que as suas escolhas nao sao mais baseadas em crenças infantis ou traumas mal resolvidos. Saber olhar para si e ver quem realmente é.