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Miss Gemini's Blog

Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras... Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.

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Um diário sem folhas, um desabar de tudo o que não tem mais lugar na cabeça. Devaneios e desabafos de uma geminiana tão diferente e tão igual a tantas outras... Sinto mais do que demonstro, sei mais do que aparento.

Gavetas cheias

Como seria se cada vez que pegasse na caneta conseguisse escrever exatamente o que estou a sentir? Provavelmente sairiam textos assustadoramente reais, daqueles que tocam onde ninguém quer tocar, daqueles que vos fariam enfrentar os vossos proprios demônios. Porque todos somos dualidade, demonio e anjo, bondade e rebeldia, amor e odio.

Nao queremos ver isso. Queremos ver textos motivadores, que nos façam ver as coisas de outra forma, que nos façam sentir que vai ficar tudo bem, independentemente da guerra que cada um está a travar. Queremos ler coisas que nos deem esperança, que nos façam acreditar mais em nós. Como um melhor amigo que se encaixa nas nossas necessidades. Ah mas isso mostra o nosso eu egoísta. Nao. Apaga esse pensamento. Anda texto, tira-me este pensamento.

E continuamos a ler, para afastar a ideia e pensar noutra coisa. Queremos antes pensar que somos especiais no mundo de alguém. Queremos sentir que fazemos o melhor que conseguimos. Queremos obter aprovação para os nossos proprios devaneios como se desculpas houvessem para os nossos comportamentos. E afinal... cada um lê o que lhe faz mais sentido. Ninguém deveria ler um livro ate ao fim se não é um ato prazeroso. Ninguém deveria ter medo de abandonar uma sessao de cinema se o filme nao lhe agrada. Mas pouca gente o faz.

Tal como pouca gente lê textos que desafiem a imagem que têm de si mesmos. Pouca gente se permite a olhar os seus demonios nos olhos, identifica-los, compreende-los e arruma-los nas gavetas certas. Porque? Porque nao é prazeroso, bem pelo contrario. Mas parece-vos mais prazeroso andar com as gavetas a transbordar, sem as conseguir fechar completamente, durante a vida inteira?

Gavetas cheias. Para onde vão as novas experiencias e aprendizagens quando as gavetas estão cheias? Onde vao buscar a vivacidade e energia de experimentar coisas novas, de sentir coisas novas, se carregam gavetas cheias e mal arrumadas? Onde colocam mais vida se não ha espaço? É aí que nos sentimos completamente assoberbados. Tudo é a gota de água. Tudo pesa. Tudo é incomodo. Tudo está desarrumado. O que? O trabalho, as amizades, a casa, o rumo? Nao sabemos. Porque? Porque sao as gavetas. Sao a nossa vida carregada aos ombros sem necessidade. Sao a espontaneidade que perdemos. Sao as vontades que nao ousamos ouvir. Sao as correntes que fomos aceitando sem dar por ela e que mantemos religiosamente como se delas precisassemos. Novidade: nao precisamos. Nao precisamos de carregar o passado as costas. Nao precisamos manter as mágoas, as dores, as culpas. Tal como nao precisamos de roupa de ha 10 anos atras que nao nos traz alegria, também nao precisamos de carregar um erro do passado a vida inteira. Precisamos de espaço para o novo. Precisamos enfrentar quem somos, aceitar o que fomos e saber que o futuro é uma incognita boa de ser vivida. Arranjem espaço na vossa cabeça e na vossa vida. Cedam à necessidade de arrumar as gavetas. Ela vem. E vai. Mas volta, sempre e mais forte quanto mais cheias andarem as gavetas.

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